sexta-feira, novembro 12, 2004

Futurologia


Fotografia de jornal, 1954. Legenda: Cientistas da Rand Corporation criaram este modelo para ilustrar como pode parecer um "computador doméstico" no ano 2004. No entanto, a tecnologia não será economicamente viável para a família média. Os cientistas também admitem sem dúvidas que este computador requererá tecnologia ainda não inventada para poder funcionar de facto, mas esperam que, em 50 anos, o progresso científico resolverá estes problemas. O computador será fácil de usar, com linguagem Fortran e uma interface de telex.

Lenda de S. Martinho

Antes de baptizado e convertido ao Cristianismo, S. Martinho foi na mocidade soldado das legiões do Imperador Juliano.Certo dia, sob o vendaval e a neve, equipado e armado, montado a cavalo, Martinho viu um mendigo semi-nu, tiritando de frio, estendendo para ele a sua pobre mão ossuda e gelada.
O Santo parou o cavalo, tomou com caridade a mão desse abandonado e, em seguida, tomou da espada, cortou pelo meio a sua capa de agasalho, deu metade dela a esse miserável peregrino e, envolto na outra metade, sacudiu a rédea e prosseguiu através da tormenta, do vento e da neve.
Subitamente, porém, no caminho do soldado, a tempestade desfez-se, amainou o tufão e a geada, o céu descobriu instantaneamente, como por encanto, a sua profundidade límpida e azul, e um sol acariciante e resplandecente inundou a terra de alegria e vestiu de luz e calor esse cavaleiro caridoso.
Deus, reconhecido, para que não se apagasse da memória dos homens a notícia deste acto de bondade, praticado por um dos seus eleitos, dispôs que em cada ano, na mesma época em que S. Martinho se desfez da metade da capa, por alguns dias se interrompesse o Inverno, cessasse o frio, sorrisse o céu e a terra, e um calor saudasse a natureza, sempre insensível à vontade dos homens, em memória daquele que, em certo dia, humilde soldado, trotando a sós por um caminho, desafiou e venceu a fúria insuperável dos elementos.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Sai mais um tinto…

Ser taberneiro é do baril! Tintos e brancos. De entrada e abaladiços. Toucinho da salgadeira e rodela de alho esparramados no casqueiro. Manteiga de cor a barrar o castrol. E a poejada santo deus? Digestivos grossos daqueles que deixam a goela em labareda, e macios que aveludam a prosápia.

sábado, outubro 09, 2004

O Preço da Liberdade

Há várias maneiras de classificar as pessoas. Um amigo meu costuma classificá-las entre as que são importantes e as que o não são - sendo que importante, aqui, significa apenas, e é muito, aquilo que merece a nossa importância, a nossa atenção, e o que o não merece: parece-me, todavia, um critério curto. Uma amiga minha gosta de as classificar, simplesmente, entre boas e más pessoas - bons e maus caracteres: parece-me um critério que faz sentido, mas que abrange apenas o domínio das relações pessoais. Mas, se pretendemos classificar as pessoas pelo critério da cidadania, a classificação que sempre tive como fundamental é a que distingue os homens livres dos capachos.

O grande mal português é que temos, verdadeiramente, poucos homens livres. Pouca gente, poucos cidadãos, que estejam dispostos a viver a sua vida, a construir o seu caminho, sem terem de prestar vassalagem a várias formas de poder. Os arquitectos não são livres, porque dependem dos interesses económicos do dono da obra. Os médicos não são livres, porque, regra geral, querem ser simultaneamente profissionais liberais e assalariados do Estado. Os advogados de sucesso não são livres, porque dependem da consultadoria dos governos e do tráfico de influências entre os negócios, o poder e o patrocínio. Os empresários não são livres, porque dependem dos subsídios, das isenções fiscais e da atenção do governo nos concursos públicos. Os intelectuais não são livres, porque estão quase sempre dependentes de empregos, bolsas ou subsídios públicos, os quais acabam inevitavelmente por pagar com simples fretes de propaganda partidária. Os jornalistas, quase todos, não são livres, porque dependem do pequeno chefe, o qual reporta ao editor principal, o qual deve satisfações ao proprietário, o qual tem de prestar atenção aos humores e sensibilidades do poder da hora.

Portugal não é, nunca foi, um país de homens livres, de homens verdadeiramente amantes da liberdade, para quem a liberdade seja tão importante como poder respirar. A grande e púdica mentira em que temos vivido nos últimos trinta anos é a de ter acreditado, ou fingido acreditar, que no dia 26 de Abril de 1974 éramos todos pela liberdade. Desgraçadamente, nesse longínquo dia, não era "a poesia que estava na rua", mas sim a hipocrisia. A liberdade não se encontra ao virar da esquina - conquista-se, merece-se e alcança-se, por si próprio e individualmente, com riscos e com perdas, e não a coberto da protecção fácil das multidões ou das leis.

Não há lei que possa declarar um homem livre, se ele próprio não está disposto a bater-se pela liberdade que lhe deram e a pagar o preço que ela exige - sempre.

Pagamos, e temos pago, bem caro o preço inverso: o preço de não sermos e nunca havermos sido uma nação de cidadãos amantes da liberdade - não a de cada um, individualmente, mas a de todos. O preço de termos empresários que vivem do favor do Estado, sindicatos que vivem do abrigo partidário, intelectuais que vivem das migalhas do orçamento da cultura. O preço de sermos dependentes, tementes e subservientes. As nações de homens livres prosperam; as nações de gente subserviente definham: cada vez estamos mais próximos do México ou da Madeira e cada vez mais distantes da Espanha ou da Inglaterra. Temos, exacta e friamente, aquilo que merecemos.

Por ora, não vou perder-me nos sórdidos detalhes desta semana portuguesa, em que de repente foi como se toda a podridão escondida tivesse vindo à superfície. Vi vermes rastejando em directo televisivo, vi o medo, a subserviência, o preço, estampado na cara de gente porventura boa, ouvi razões e argumentos de estarrecer, conheci factos e circunstâncias que nem nos meus mais negros momentos de descrença julguei serem possíveis nesta desilusão a que chamamos Portugal. Por ora, contenho-me, porque o nojo e a revolta são ainda tão presentes que ofuscam a lucidez e a serenidade que certas coisas exigem absolutamente. Mas quem me lê sabe que apenas preciso de tempo e de recuo - como quem recua perante um quadro para melhor o ver.

Aliás, impõe-se a distância necessária para tentar entender que país é este, que cidadãos são estes e o que verdadeiramente os preocupa: a vaca a ser mungida na Quinta das Celebridades ou o Governo a ser mungido na Quinta dos Influentes?

2. Há dois anos atrás, ingenuamente, aceitei fazer parte de uma comissão nomeada pelo anterior Governo e cuja missão principal era definir como deveria funcionar a televisão pública, com que meios e financiamentos e a que regras deveria obedecer. Como eu, várias outras pessoas, que nada quiseram nem receberam em troca, sacrificaram muito dos seus tempos úteis e livres, para, dentro do prazo fixado, dotar o Governo do resultado de uma reflexão, em forma de propostas concretas, que reunia o maior consenso possível entre gente de diversas proveniências e ideias. Recebido o trabalho e fingindo-se escudado nas conclusões da sua "comissão independente", o ministro Morais Sarmento meteu as conclusões ao bolso e, até hoje, nem um obrigado nos disse.

Entre as conclusões que ele fez desaparecer instantaneamente na atmosfera, estava uma que recomendava que as regras editoriais e deontológicas estabelecidas para o funcionamento da televisão pública tivessem, obviamente, extensão a todo o território nacional, incluindo Açores e Madeira. Porque, tanto quanto era do nosso conhecimento, nas regiões autónomas vigora a mesma Constituição, o mesmo regime democrático e o mesmo Estado.

Porém, a solução adoptada para a Madeira foi exactamente a oposta e que veio ao encontro das antigas e persistentes exigências do soba local: a RTP-Madeira foi dada de bandeja ao dr. Jardim, aí vigorando, como no resto da vida pública local, uma concepção de liberdade de informação que se confunde com aquela em que o dr. Jardim aprendeu a fazer jornalismo, no tempo do partido único, da censura e da ditadura. E a coisa seguiu assim, sem escândalo de maior. Esta semana, porém, a sem-vergonha do regime madeirense chegou ao extremo de o PSD-Madeira (um eufemismo do dr. Jardim) protestar oficialmente pelo facto de a RTP nacional ter enviado equipas de reportagem à Madeira para cobrirem (para o continente, exclusivamente) as eleições locais - o que, segundo eles, constitui um "insulto à alta capacidade dos profissionais da RTP-Madeira". E mais, indignaram-se eles com o facto de os jornalistas idos de Lisboa "se terem instalado num hotel", a partir do qual "transmitem para Lisboa aquilo que em segredo montam, com máquinas que trouxeram e aí colocaram". Por mais que puxe pela memória, só consigo lembrar-me de coisa semelhante comigo ocorrida na antiga Roménia de Ceausescu. O PSD-Madeira é hoje o único regime em toda a Europa que considera um insulto e uma ameaça a presença de jornalistas "estrangeiros" a reportarem para fora como funciona o seu regime.

Será isto, pergunto, "o regular funcionamento das instituições democráticas", tão caro ao Presidente da República? Ou a excepção democrática madeirense já está definitivamente assumida como coisa banal e inevitável?

Por MIGUEL SOUSA TAVARES

Publicado no PúblicOnline

quinta-feira, setembro 30, 2004

"Não há ferro que penetre o coração com a força com que o faz um ponto final colocado no sítio certo".
(Isaac Babel)

domingo, setembro 26, 2004

Magna Charta Universitatum

Preâmbulo

Os Reitores das Universidades europeias, abaixo assinados, reunidos em Bolonha por ocasião do IX centenário da mais antiga de entre elas, quatro anos antes da supressão definitiva das fronteiras comunitárias e na perspectiva de uma colaboração alargada entre todos os povos europeus, entendendo que os Povos e os Estados devem mais do que nunca tomar consciência do papel que as Universidades serão chamadas a desempenhar numa sociedade que se transforma e se internacionaliza, consideram:

1) que o futuro da humanidade, neste fim de milénio, depende em larga medida do desenvolvimento cultural, científico e técnico que se forja nos centros de cultura, de conhecimento e de investigação em que se tornaram as verdadeiras Universidades;

2) que a tarefa de difusão dos conhecimentos que a Universidade deve assumir para com as novas gerações implica hoje que ela se dirija igualmente ao conjunto da sociedade - cujo futuro cultural, social e económico exige, nomeadamente, um considerável esforço de formação permanente;

3) que a Universidade deve assegurar às gerações futuras uma educação e uma formação que lhes permita contribuir para o respeito dos grandes equilíbrios do ambiente natural e da vida.

Proclamam, perante os Estados e a consciência dos povos, os princípios fundamentais que devem sustentar no presente e no futuro a vocação da Universidade.

Princípios fundamentais

1. A Universidade é, no seio de sociedades diversamente organizadas e em virtude das condições geográficas e do peso da história, uma instituição autónoma que, de modo crítico, produz e transmite a cultura através da investigação e do ensino.
Para se abrir às necessidades do mundo contemporâneo, ela deve ser, no seu esforço de investigação e de ensino, independente de qualquer poder político, económico e ideológico.

2. Nas Universidades, a actividade didáctica é indissociável da actividade de investigação, a fim de que o próprio ensino possa acompanhar a evolução das necessidades e as exigências da sociedade e dos conhecimentos científicos.

3 Sendo a liberdade de investigação, de ensino e de formação princípio fundamental da vida das Universidades, os poderes públicos e as mesmas Universidades, cada um no seu domínio de competência, devem garantir e promover o respeito dessa exigência fundamental. Na recusa da intolerância e no diálogo permanente, a Universidade é um local de encontro privilegiado entre os professores, capazes de transmitirem o saber e os meios de o desenvolver através da investigação e da inovação, e os estudantes, que têm o direito, a vontade e a capacidade de com isso se enriquecerem.

4. Depositária da tradição do humanismo europeu, mas com a preocupação constante de alcançar o saber universal, a Universidade, para assumir as suas missões, ignora as fronteiras geográficas ou políticas e afirma a necessidade imperiosa do conhecimento recíproco e da interacção das culturas.

Meios

A realização destes objectivos, no quadro de principios semelhantes, exige meios eficazes e portanto adaptados à situação contemporânea.

1. Para preservar a liberdade de investigação e de ensino devem ser dados, ao conjunto dos membros da comunidade universitária, os instrumentos necessários à sua realização.

2. 0 recrutamento dos professores - bem como a regulamentação do seu estatuto - devem ser orientados pelo princípio da indissociabilidade da actividade de investigação e da actividade didáctica.

3. Cada Universidade deve garantir aos estudantes, respeitando a especificidade das situações, a salvaguarda das liberdades e as condições necessárias para atingirem os seus objectivos em matéria de cultura e de formação.

4. As Universidades - e nomeadamente as Universidades europeias - vêem na troca recíproca de informações e de documentação, e na multiplicação de iniciativas científicas comuns, os instrumentos fundamentais para o progresso contínuo dos conhecimentos.

Por essa razão, e encontrando aí as suas fontes, as Universidades encorajam a mobilidade dos professores e dos estudantes, e consideram que uma política geral de equivalências em matéria de estatuto, de títulos, de exames (preservando embora os diplomas nacionais) e de atribuição de bolsas constitui o instrumento essencial para garantir o exercício das suas missões contemporâneas.

Os Reitores abaixo assinados, em nome das suas Universidades, comprometem-se a tudo fazer para que cada Estado e as organizações supranacionais interessadas possam inspirar-se progressivamente nas disposições desta Charta, expressão unânime da vontade autónoma das Universidades.

Bolonha, 18 de Setembro de 1988

in magna-charta.org


Universidades signatárias.

sexta-feira, setembro 24, 2004

SOBRE O FIM DO SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO

"Na semana em que acabou, vale a pena reflectir sobre o serviço militar obrigatório. Ele acabou. E eu, que não fiz tropa e nem teria feitio ou disposição nenhuma para a fazer, digo: é uma pena. Não é uma pena ter-se acabado a obigatoriedade da tropa; é uma pena ter-se acabado a obrigatoriedade, simplesmente. Eu explico.No sistema que defendo (e que se pratica, por exemplo, na Alemanha, um país que para mim é um exemplo em muitas coisas) um jovem, ao acabar a escola secundária, pode decidir livremente se presta o serviço militar ou se presta outro tipo de serviços à comunidade (e, saliente-se, sem precisar de se declarar objector de consciência). Que tipo de serviços são estes? Podem ser colaborar em hospitais, com os bombeiros, ser nadador salvador, ou outro tipo de tarefas não especializadas que contribuam para o bem estar geral. Serviços que são presentemente prestados por voluntários. Teríamos assim também a vantagem de poder prescindir destes bons samaritanos ou, pelo menos, reduzir a sua importância. Eu, que não gosto nada de caridadezinhas, prefiro não dever nada a ninguém, e que a sociedade também não deva: estes serviços seriam obrigatórios, prestados por toda a gente (homens e mulheres, claro) em alternativa ao serviço militar. Seria democrático. E sem excepções, como eu gosto.Estes serviços teriam de ser prestados com seriedade, responsabilidade e disciplina. No fundo como na tropa, só que sem os militares. (Acho que a tropa até seria muito boa, se não fossem os militares.) Sem ter de aturar recalcados e hierarquias absurdas e estúpidas. E com a sensação de que se estava a fazer algo de útil.
Por que defendo eu isto? Que vantagens daí adviriam para a sociedade? Bem, para mim pelo menos é claro que a minha geração é egoísta. Há um enorme défice de participação cívica, que convém corrigir desde tenra idade. Por isso eu proponho este serviço logo aos 18 anos, assim que se acabar a escola secundária, sem adiamentos (exactamente como na Alemanha). Quem seguisse para a universidade já teria assim tido pelo menos uma responsabilidade séria na vida (ser estudante de licenciatura, estudar para uns exames, pode ser duro intelectualmente, requer alguma responsabilidade mas não muita, e ainda menos em Portugal). A minha experiência diz-me que os estudantes mais sérios e trabalhadores são... os trabalhadores-estudantes (nos EUA, por exemplo, são a maioria). Com esta medida creio que se aumentaria a taxa de aproveitamentos das nossas universidades: os estudantes passariam a levar o estudo mais a sério (embora eu nem creia que os estudantes sejam os principais culpados das elevadas taxas de reprovação, mas isso é outro assunto).Eu não fiz a tropa; o meu contacto com o serviço militar limitou-se à inspecção. Mas hoje vejo que teria dedicado de bom gosto alguns meses da minha vida a uma actividade destas, desde que toda a gente os dedicasse também. Não sei o que pensarão desta proposta o Luís e o Daniel, que fizeram a tropa e se manifestaram a favor do fim do SMO. Mas sei que esta proposta não será nada popular entre os sectores afectos à direita liberal e ao Bloco de Esquerda, que se unem numa estranha coligação contra o SMO (e provavelmente contra qualquer coisa que inclua a palavra "obrigatório") pelos mesmos motivos egoístas e individualistas. (Razão tinha Pacheco Pereira ao afirmar, há uns anos, que a propaganda anti-SMO então distribuída pela JSD, na altura liderada pelo actual secretário de Estado da Juventude, mais parecia "propaganda do PSR".) É provável que leve muita pancada, principalmente de pessoas que não foram à tropa. Não me importa. Não me assusta levar pancada de quem não foi à tropa..."

in BdE - Blogue de Esquerda (II)

quinta-feira, setembro 23, 2004

29 regras para bem escrever português

Bons conselhos para uma boa escrita:
1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.
2. É desnecessário fazer uma opção superlativa quanto ao estilo e empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de um excessivo esmero a raiar o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas., o mais possivel!
4. não esqueça as maiúsculas no inicio das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria, bué, mesmo que pareça nice, tá fixe?
9. Palavras de baixo calão podem transformar o seu texto numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar, é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem ideias próprias".
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação correctamente o ponto e a vírgula especialmente será que já ninguém sabe utilizar o ponto de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca! O seu texto fica horrível!
25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da ideia nelas contida, e, por conterem mais que uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúaa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo no gerúndio. Você vai deixando seu texto pobre -ausando ambiguidade - e esquisito, ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo.
29. Outra barbaridade que você deve evitar é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras, carago!

in Fábulas

A propósito do respeito

«Tenho o marido que pedi a Deus. Muito compreensivo, lúcido e esclarecido. [...] Como não é castrador ou possessivo, o meu marido dá-me liberdade. Quer ver-me feliz.»
Malu Mader

in Esplanar

quarta-feira, setembro 22, 2004

Educar Os Portugueses, Formar Elites

(...)

A independência dos Estados, hoje mais do que nunca, está ligada ao reconhecimento e à valorização da única matéria-prima de que todas as nações dispõem: a inteligência dos seus cidadãos. "Todos os conteúdos do desenvolvimento exigem agentes qualificados, um conjunto de valores éticos e comportamentos sociais que só podem emergir na liberdade e têm de ser cultivados na escola." (As citações são do filósofo A. C. Grayling.) A educação é sempre condição necessária do desenvolvimento.

O desenvolvimento exige a formação de elites, intelectuais, profissionais, morais. Não existe contradição entre a formação de elites e um ensino geral, para todos, com a maior qualidade possível. Pelo contrário. Só um ensino de qualidade para todos permite a revelação e selecção de um estrato de elite digno desse nome, estudantes com capacidades, preparação e vontade que lhes permitam ter acesso a uma formação superior mais exigente.

"O ideal do espírito democrático é tratar todas as pessoas de forma justa", promover a igualdade de oportunidades e a equidade, as duas componentes da justiça social. "A perversão desse espírito é a tentativa de as tornar todas idênticas."

É em nome dessa perversão - um igualitarismo gerador de iniquidade e de desigualdades maiores - que a mediocridade geral tem sido programadamente imposta à escola, aos docentes, aos estudantes, aos pais, ao país.

Do que precisamos é de um ensino básico e secundário de qualidade em todas as suas vertentes. Um ensino que desperte, promova e leve tão longe quanto possível as capacidades de todos. Um ensino que, por isso mesmo, permitirá revelar e seleccionar os melhores, os mais dotados (que nunca serão de mais e que existem em Portugal na mesma proporção que em qualquer outro país), a quem deve ser oferecida a mais exigente formação superior possível. Elites que só o serão, afinal, se forem "picos" num panorama geral de elevada qualidade. Elites que assumam os lugares de maior exigência e responsabilidade, por ser vital para o bem comum e por ser justo.

O que é necessário é uma escola onde não continue a ser cultivada, como tem acontecido, a "atrofia da memória", mas que seja, pelo contrário, sede privilegiada de transmissão e aquisição de conhecimentos, sem a qual não é possível o exercício do pensamento, a emergência da consciência crítica, a constituição e o exercício da capacidade e das qualidades intelectuais que permitem novas aprendizagens. Uma escola, portanto, em que a idiotice do "aprender a aprender" não seja a justificação para não se ensinar nem aprender nada. Uma escola onde se promovam e exijam as atitudes intelectuais e cívicas que são condição da liberdade. Liberdade que não é um estado de natureza, mas um produto de cultura. Não há democracia digna desse nome sem cidadãos informados, capazes de reflectirem. É por isso que a ideologia e as pedagogias que têm dominado o sistema educativo põem em causa a democracia, ameaçam a liberdade.

(...)

Selecção de mérito, de competência, de vontade e de carácter. Portugal precisa desesperadamente de profissionais qualificados em todos os sectores de actividade, de elites intelectuais e profissionais, mas também de elites de carácter, que prezem e defendam a verdade, que não cedam relativamente ao que é inadiável realizar. Não das "elites" de compadrio, de dinheiro sujo, de influência, de fidelidade aos "cartéis", que são as "elites" que emergem e se tornam dominantes quando não se formam e promovem as verdadeiras elites. É este o problema.

Diz-se significativamente que "em Portugal quem tem um olho é rei". Do que precisamos é de um ensino que dê a cada um a possibilidade de usar o melhor possível os olhos que tem e, por isso mesmo, permita identificar o maior número daqueles a quem deve ser oferecida uma educação superior - digna desse nome - que lhes permita ver muito mais longe. No interesse de todos.(...)

in Público
Por GUILHERME VALENTE

Media-esfera, Blogosfera e Atmosfera

(...)

Em Portugal, o mesmo já se passa hoje. Excluam-se os blogues e a comunicação social seria diferente. Não porque os blogues sejam lidos por muita gente, mas sim porque são lidos pela gente certa. Os blogues são escritos por uma elite para uma elite, são escritos por estudantes, literatos, políticos, cientistas, investigadores, jornalistas, na maioria dos casos jovens e no início de carreira, e são lidos pelos mesmos grupos sociais e profissionais dos que os escrevem. Um grupo tem relevo especial neste ecossistema que é a blogosfera: são os jornalistas.

(...)

Claro que os blogues estão longe de ser apenas um órgão de "jornalismo informal", como Mário Mesquita lhes chamou, e incluem outras dimensões que podem ter um carácter literário, sociológico e mesmo científico, como instrumentos de investigação. Penso, aliás, que as virtualidades literárias e estéticas da fórmula "diário-em-linha", em conjugação com inovações tecnológicas do software como o MyLifeBits da Microsoft podem vir a permitir novas formas de criação estética. Mas, a curto prazo, tem sido o efeito na media-esfera o de maior impacto.

in Público
Por JOSÉ PACHECO PEREIRA